Consagração integral

O rito de consagração dos sacerdotes para oficiarem no santuário de Deus foi pronunciado no segundo livro do Anterior Testamento, em que havia a separação de animais e de alimentos à base de trigo para servirem como sacrifícios pelos pecados e como ofertas movidas diante do Senhor (BÍBLIA, Êxodo, 29). Existia a lavagem cerimonial ainda, a colocação das vestimentas e dos outros itens do vestuário sacerdotal também, bem como a unção com óleo.
Porém, algo intrigante é percebido no verso 20 desse capítulo. Refere-se isso a Moisés tomar o sangue de um dos carneiros imolados e aplicá-lo nos sacerdotes, pois o Senhor disse: “Imolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita de Arão e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o polegar da sua mão direita e sobre o polegar do seu pé direito” (BÍBLIA, Êxodo, 29, 20, p. 90).
Quais os significados da aplicação do sangue sacrificial de um dos carneiros nos corpos dos sacerdotes?
Antes de responder à pergunta, convém relatar que Arão e seus filhos deveriam pôr as mãos sobre a cabeça de cada um dos animais antes de os imolar (BÍBLIA, Êxodo, 29, 10, 15, 19). Colocar as mãos sobre a cabeça do sacrifício exprimia o conceito de que o animal seria entregue em substituição por aqueles em favor de quem se realizava a imolação, posto que eles faziam jus a ruína como homens a pecar: “E porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação.” (BÍBLIA, Levítico, 1, 4, p. 102).
Adiante, Moisés agiu como predissera o Senhor nas deliberações de Êxodo (BÍBLIA, Levítico, 8, 22-24, p. 109):
Então, fez chegar o outro carneiro, o carneiro da consagração; e Arão e seus filhos puseram as mãos sobre a cabeça do carneiro. E Moisés o imolou, e tomou do seu sangue, e o pôs sobre a ponta da orelha direita de Arão, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito. Também fez chegar os filhos de Arão; pôs daquele sangue sobre a ponta da orelha direita deles, e sobre o polegar da mão direita, e sobre o polegar do pé direito; e aspergiu Moisés o resto do sangue sobre o altar, em redor.
A aplicação do sangue nas orelhas e nos dedos dos sacerdotes, de acordo com Azevedo ([20--?]), indicava a correta disposição do homem em seguir as orientações de Deus nas três dimensões da própria vida. O sangue aplicado à ponta das orelhas significava que a audição dos sacerdotes deveria ser pura, sentido orientado para obedecer ao que Deus ensinava, diferente de como agiram Adão e Eva na queda (AZEVEDO, [20--?]).
A aposição do sangue nos polegares das mãos direitas dos sacerdotes era a sinalização de que suas ações seriam santificadas para abençoar vidas corretamente segundo Azevedo ([20--?]), pois as mãos deles conduziam os sacrifícios, as ofertas e os utensílios nos ofícios do santuário, os quais foram por Deus purificados.
A abrangência de uma vida separada para o Senhor totalmente é vista na última consagração, uma vez que os polegares dos pés são essenciais para o caminhar acertado do homem. Conforme Azevedo ([20--?]), a colocação do sangue de um dos carneiros no polegar do pé direito dos ministros sinalizava que eles eram santos onde quer que estivessem, não, apenas, nos ofícios cerimoniais.
Por isso, percebe-se que embora alguns fossem separados dentro do povo hebreu para oficiarem diante do Senhor, em santificação integral das próprias vidas, o intento de Deus é que todo o seu povo seja santo – sem confiar nos próprios sentidos, nem na força particular do seu braço, sequer em se fiar que o individual caminhar será livre de imprecisões no se distanciar do Altíssimo.
Pedro trouxe esse entendimento, de que os cristãos são consagrados como sacerdotes de Deus, povo particular e santo do Senhor, a partir da graça ofertada pela pedra que os construtores rejeitaram, Jesus:
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. (BÍBLIA, Primeira Pedro, 2, 9-10, p. 1.223).
Destarte, entendam que é atribuição de cada cristão se despojar de toda maldade, hipocrisia, inveja, maledicência, daquilo que é paixão carnal para que Cristo seja glorificado na maneira de proceder do ministro consagrado a Deus, ou seja, daquele que vive para o Senhor integral e graciosamente (BÍBLIA, Primeira Pedro, 2, 1-12).
Prof. Leonardo Rabelo Paiva
Escola de Formação Cristã - EFC/CEFA