O CRISTÃO PODE FESTEJAR O HALLOWEEN?

As comemorações e festividades estão intrinsicamente ligadas à visão de mundo de um povo, e diferentes culturas celebram datas específicas e relevantes de sua história. Nós, brasileiros, carregamos uma forte herança europeia, africana, indígena - desta mistura surgiu uma cultura rica que possui suas festas com formas e significados para o nosso povo. Porém, com o advento da globalização, do multiculturalismo, da internet que nos conecta com extrema rapidez, algumas festividades estrangeiras vêm sendo adotadas em nosso país e celebradas com entusiasmo, principalmente em nossas escolas.
Algumas destas pela sua forma, conteúdo e caráter preocupam os cristãos. O Halloween, por exemplo. Deve o cristão permitir que seus filhos participem desta festa? Frequentemente recebemos indagações de pais se devem frustrar seus filhos com uma negativa, ou devem permitir que eles participem?
Antes de discutir um pouco sobre as origens do Halloween, quero dizer que este é um conflito de cosmovisão. A partir de qual lente nós cristãos enxergamos o mundo? Através da lente do Cristo, de sua obra e de sua pessoa. O multiculturalismo considera todas as culturas como moralmente equivalentes, reflexos de sua história. Porém os cristãos defendem a visão bíblica de mundo como sendo digna, o eficaz modo de viver, a visão qualificada a trazer respostas ao mundo caído. Isso porque ele é fundamentado na revelação escrita, que aponta para a revelação pessoal do Cristo, que é Deus - e que tem um caráter justo, santo e amoroso.
Para trazer mais clareza ao pensamento vamos observar as origens da comemoração. Não tenho intenção de fazer uma exposição de elementos detalhados, apenas apontarei uma visão geral do assunto. Halloween remonta aos povos celtas que viviam na Irlanda e na Escócia. Nessa mesma época, estes povos comemoravam o festival de Samhain, que marcava o início de um novo ano e o encerramento das colheitas. A festa era marcada por sacrifícios aos deuses, celebrações em torno das fogueiras. O momento mais importante do festival era a passagem do 31 de outubro para o 1 de novembro. Conforme criam os druidas, a ordem cósmica e espiritual era alterada e as almas dos mortos podiam fazer contato com os vivos. Com a finalidade de afugentar os maus espíritos eles fantasiavam-se e realizavam procissões pela sua aldeia. Muitas dos costumes que hoje são praticados no Halloween moderno, são associados por pesquisadores ao festival de Samhain.
Com a conquista romana em 43 d.C. do território celta, posteriormente a oficialização do cristianismo como religião do império (com um forte sincretismo religioso adotado pelos líderes católicos), esta festa recebeu um novo formato, uma conexão à veneração dos santos católicos. O dia de todos os santos, comemorado dia 13 de maio, passou para o dia 1 de novembro. Daí a etimologia do nome, "All Hallows' Eve". "Hallow", "santo", e "eve" uma palavra para "véspera", ou seja: a noite anterior ao Dia de Todos os Santos. Com a chegada da inquisição, o nome da festa muda para o popular “dia das bruxas” - a intenção é conectar o caráter místico da festa com a prática da bruxaria, somado a intensa perseguição e antipatia que a igreja nutria pelo misticismo.
E lá vamos nós: a América começa a ser povoada e os europeus estabelecem aqui suas colônias. Na América do Norte, irlandeses trazendo consigo essa herança cultural continuam a celebração, adotando outros elementos da colônia e criando lendas da própria terra. O tempo passou e temos hoje uma mistura de costumes remodelados ao longo dos anos, uma festa vista como oportunidade para o comércio. Com a crescente adesão de pessoas à feitiçaria e cultos Wicca nos Estados Unidos, este momento também tem implicações espirituais, onde oferendas são feitas em meio à cultos primitivos carregados de bebedices, orgias sexuais, invocações de espíritos. Um culto animista, de caráter ritualístico, fenomenológico e manipulativo.
O Halloween tem sido amplamente aceito pela nossa nação – com seu péssimo hábito de desvalorizar o que é brasileiro e adotar a cultura americana como símbolo de sofisticação e grandeza. E tem despertado a preocupação de um remanescente fiel a uma visão Cristocêntrica, um povo que considera a tradição de um povo - desde que seja historicamente formada por uma cosmovisão bíblica. Apreciamos a diversidade cultural, mas sabendo que a palavra de Deus é a verdade, insistimos e julgar as práticas de determinada cultura com base nas escrituras. E aí devemos ou não celebrar o Halloween.?
Gosto do versículo de 1 Coríntios que diz: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.” (1 Co 10.23). Os princípios de conveniência, edificação e licitude norteiam nossas práticas enquanto cristão convictos de nossa identidade e propósito nessa terra (1 Co 6.12; 10.23a; Gl 6.7). É licito celebrar uma festa que adota elementos do ocultismo, que remete à praticas místicas, animistas, fetichistas? Existem muitas exortações bíblicas em relação à conexão com outros deuses, espíritos familiares, adivinhações e ocultismo (Dt 18.9-12). O próprio texto de 1 Coríntios no versículo 21, ao comentar sobre os rituais aos ídolos declara: “Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. A vivência cristã extravasa o culto público, permeia o dia a dia santificando o cotidiano, e dá vida à nossas expressões culturais. Se diante da visão bíblica, qualquer prática fere as escrituras, então não pratique.
No que diz respeito às crianças, cito o elemento da dessensibilização, e a edificação espiritual. O texto de 1 Coríntios 10.23 diz “mas nem todas as coisas edificam”. Nosso dia a dia, nossas festas, nossa moda, arte, música deve ser santificada pela palavra de Deus. E mais: nossas práticas devem edificar o mundo. Determinadas práticas promovem uma dessensibilização das crianças, e pergunto: que valor moral ou religioso ficará impresso numa criança que é ensinada a celebrar o Halloween? Ou pior: que é ensinada no culto dominical a valorizar o santo, o sacro, o sagrado, a luz, e de repente percebe que o discurso de seus pais (dos bons costumes), não é validado pela prática quando estes os incentivam a se divertir fazendo travessuras, se vestindo de demônios, mortos, monstros e bruxas? Isso é uma forma de santidade assimétrica, onde se faz o oposto do que se fala. Uma vez que elas aprendem pelo lúdico, pelo visual pelo imaginário, ao banalizar, tornar comum ás nossas crianças essas imagens que remetem ao oculto, ao mal, ao diabo e suas hostes, entramos pelas largas portas do relativismo. O oculto é banalizado, o diabo é tido como mito. Se não existe diabo, o que peca desde o princípio (1 Jo 3.8), provavelmente não precise existir inferno. Assim começamos a desintegrar outras doutrinas fundamentais da fé cristã.
Enfatizo que tudo que fazemos, deve Glorificação à Deus (1 Co 10.31). Somos chamados como um povo responsável à santificar este mundo caído. Então toda ação deve apontar para existência de um Deus bom, e trazer a glorificação ao seu santo Nome. O trecho do livro “E agora como viveremos?” de Charles Colson e Nancy Pearcey diz
“Em toda ação, estamos fazendo uma de duas coisas: ou estamos ajudando a criar o inferno na terra ou trazendo para cá o antegozo do céu”.
Nossas ações tem um peso de responsabilidade para com o coletivo. Através da obra completa de Cristo na cruz, seus seguidores podem responder aos dilemas do mundo com justiça, graça, paz e transformação. Tudo na sua vida deve glorificar à Deus!
Dia 31 de outubro: Halloween. Dia 31 é também o dia nacional da poesia. Porque não exaltar o belo em vez de exaltarmos o mal e o sinistro? Arte santificada leva os olhos do homem para um criador, para um projetista inteligente que expressou na natureza, nas linhas do mar, nas nuvens do céus, no arco íris aberto sobre uma cachoeira a maior poesia de amor ao mundo: sua existência e seu desejo de se relacionar com seus filhos (Sl 19.1).O dia 31 também é comemorado o dia da Reforma Protestante, quando Martinho Lutero fixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg as teses que traziam para o debate a situação decadente da igreja daquela época. E creia, este é o momento de voltarmos à palavra: refletirmos se estamos de fato promovendo santidade social em nossa geração. Se estamos provendo à nossa cultura uma maneira de viver que agrade à Deus e traga paz à nossa nação. Como agir então? Nosso mundo precisa de respostas aos seus dilemas. O cristianismo provê estas respostas. O mundo precisa de beleza, verdade, bondade, de virtudes, em Deus obtemos estas graças. E convém a nós conectar cultura com a verdade de Deus. Então ao ensinar seus filhos, ensine a serem fieis à palavra de Deus, para que um dia eles devolvam com mãos santificadas uma cultura ao mundo que torne o ser humano melhor. Segundo, podemos disciplinar nossa vivência, costumes e hábitos rejeitando tudo que vai contra a natureza de Deus vivendo de maneira “... sóbria, e justa, e piamente” (Tt 2:12).
Isaias Donizete Terra, Discipulador de jovens, Presbítero na Comunidade Evangélica Filadélfia Alfenas - MG